COMO FORAM OS DESFILES DO GRUPO PRATA

Acadêmicos da Orgia / Foto: Pedro Piegas - PMPA

GRUPO PRATA - SEXTA-FEIRA, 03

Acadêmicos da Orgia 

A escola Acadêmicos da Orgia abriu a primeira noite do Carnaval 2023, no Complexo Cultural do Porto Seco, nesta sexta-feira, 3. A garoa deu uma trégua e a agremiação ocupou a passarela Carlos Alberto Barcelos, o Roxo, para desenvolver o enredo em homenagem ao afro-gaúcho Oliveira Silveira. Oliveira foi poeta, escritor, professor, pesquisador da cultura, política e história afro-brasileira.

Fundada em 2 de fevereiro de 1960 e presidida por Jussara dos Santos, a Acadêmicos da Orgia trouxe para o desfile dois carros alegóricos e desfilou com dez alas, incluindo a comissão de frente e alas das baianas.

O carro abre alas representou a Sabedoria, mostrando os ensinamentos do homenageado: mestre Oliveira Silveira. O segundo carro Vida e Obra de Oliveira Silveira faz referência à fundação do grupo Palmares e ao 20 de novembro, data em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra e da morte do grande lider Zumbi dos Palmares.


Mocidade Independente da Lomba do Pinheiro

Segunda escola a desfilar na sexta-feira, 3, a Mocidade Independente da Lomba do Pinheiro entrou na avenida às 21h15. Fundada em 5 de março de 1985, é presidida por Jorge Vidal.  O carnavalesco Guaraci Feijó desenvolveu o tema através de perguntas do chamado jogo divinatório do povo africano.

A escola passou com três carros alegóricos. O primeiro Orum, Reino de Olorum. No carro dois, Velas, rotas...seres sem alma, com os escravocratas. No terceiro carro, Adébáyó, com ile da Mocidade, em dia de festa de Cosme e Damião.

No desenvolvimento do enredo, trouxe ainda a comissão de frente com a perseguição europeia contra o povo preto africano e o quesito obrigatório de todas as escolas, a ala das baianas.

Praiana

Uma garoa persistente acompanhou o desfile da Academia de Samba Praiana, terceira escola a desfilar na noite de sexta-feira, 3. A Praiana trouxe o enredo NKISI e a Herança Ancestral da Civilização Banto. A escola das cores verde e rosa, uma das agremiações mais antigas da Capital, retoma a temática africana que não fazia parte dos seus desfiles desde a década de 1960.

Segundo pesquisa divulgada pela Fundação Palmares, 75% dos negros raptados da África e forçadamente trazidos ao Brasil para serem escravizados vieram da África-central, mais precisamente da etnia Banto (originalmente grafada como Bantu), formados principalmente pelos povos do Congo, Benguela, Cabinda e Angola.

Apesar das diferenças étnicas, muito de sua cultura original preserva-se até os dias de hoje. Com 12 alas e três carros alegóricos, o desfile foi dividido em quatro setores. O primeiro tratou do convite de Nkasuté-lembá e a criação dos Nkisi’s. No segundo setor, o tema foi a influência Bantu na culinária e na língua portuguesa. O legado Bantu nas festas típicas e na arte esteve no terceiro setor do desfile. O quarto setor abordou a referência Bantu e a influência africana na música brasileira.

Império da Zona Norte

A insistente chuva deu uma pausa no início do desfile da Império da Zona Norte na noite de sexta-feira, 3. Com as cores amarelo, prata e branco e o símbolo de dois leões alados coroados, a escola entrou na passarela do Complexo Cultural do Porto Seco às 22h40.

A Zona Norte enraizada neste chão: Pedro Guilherme a Semente de um Império de Paixão foi o enredo apresentado. De autoria de Igor Rodrigues e desenvolvido por Edson Souza, o Dico, o tema falou das raízes históricas e miscigenadas de uma Zona Norte que nasceu da plantação de Pedro Guilherme.

Com 15 alas e dois carros alegóricos, a escola, fundada em 20 de março de 1975, desfilou para homenagear a ancestralidade da natureza, representada no primeiro carro, no qual eram contadas histórias sobre o passado, presente e futuro.

Na segunda alegoria, De Pedro Guilherme o Império se ergue, um carro cenário em duas partes: a frente os antigos carnavais, personagens típicos reverenciam o cortejo a Pedro. No segundo plano, o império atual nas cores do seu pavilhão com Guilherme presente, com a família e amigos, coroando a grande festa da escola.

Copacabana

Última concorrente da Série Prata a desfilar no primeiro dia, a Copacabana iniciou a sua apresentação à 0h15 de sábado, 4. A escola da Vila Bom Jesus veio com o enredo Agudás. Ideais de Liberdade da negritude, de autoria de Jorge Bertoli Junior e desenvolvido pela Comissão de Carnaval. Foi a quinta escola na passarela do Porto Seco. 

A epopeia Agudá, que em si guarda todas a faces da negritude: a dolorosa, a agressiva, a serena, porém vitoriosa é a África que está vindo para o Brasil, trazendo lembranças culturais como bagagem: comidas, religiosidade e sabedoria.

No desenvolvimento do tema foram 21 alas e quatro carros alegóricos. O primeiro, o carro abre alas, representou um navio negreiro embarcação onde são trazidos os negro escravizados na África. A segunda alegoria foi o carro do Engenho que sintetiza, em termos alegóricos, as atividades desenvolvidas no Brasil pelos escravizados.

O terceiro carro, O Grande Retorno, simboliza o retorno ao continente africano. As realizações, assim como a mudança de padrão de vida, mesmo que influenciada pelos europeus, são retratadas nessa alegoria. O quarto carro, Mercado de Benin, é a materialização do novo mundo. 

GRUPO PRATA - SÁBADO, 04

Protegidos da Princesa

Fundada em 15 de novembro de 1969, a Escola Protegidos de Princesa Isabel foi a segunda agremiação a desfilar na noite deste sábado, 4, abrindo seu desfile às 20h. O enredo "Vigiai & Orai em qualquer brecha o pecado faz a festa’’ é baseado nos sete pecados. É de autoria de Lana Flores e foi desenvolvido por Rogério Douglas.

Ao abordar os pecados,  a Protegidos o faz de forma, saudável, alegre, cantando e se divertindo no desfile. Para desenvolver o tema, a escola fez um desfile divididos em três setores, compostos por 15 alas.

Além do abre alas – Sagrado portal espiritual aqui estamos protegidos de tudo! - mais três alegorias passaram na avenida: A Maçã – Fruto Proibido, Igreja e a Serpente. A maçã é a principal representação da transgressão de Adão e Eva no Éden.  A igreja, local sagrado de oração, redenção e arrependimento dos pecados, e a serpente, corpo usado por satanás para entrar no Éden, aproximar-se de Adão e Eva para que pecassem.

Filhos de Maria

Segunda escola da noite de sábado, 4, a Escola Filhos de Maria, fundada em  28 de abril de 2019 na Lomba do Pinheiro, disputa a Série Prata. A chuva voltou durante o passagem da escola e persistiu até o final da apresentação. O enredo foi uma criação baseada em três Lendas da Obirici, com o objetivo de homenagear a cultura e as mulheres indígenas.

Segundo estudos antropológicos, com o deslocamento da população indígena durante o período de povoamento do nosso atual território brasileiro, as lendas e histórias foram se disseminando e sendo adaptadas para as diferentes regiões. Isso explica as sete lendas sobre a Obirici existentes pelas diferentes regiões do Brasil. A história apresentada pela escola inicia pela lenda amazônica. No sudeste, a Obirici é transformada na Serra da Mantiqueira e na lenda porto-alegrense a índia se transforma no riacho Ubicurietã.

A escola veio com 15 alas incluindo a ala das baianas, item obrigatório nos desfiles da Capital e três alegorias. A primeira é Kaa Açu onde corre Nhamundá, representação de uma oca indígena em Kaa Açú (Amazônia). A  alegoria que representa a região Sudeste é Maan Tiquira é Obirici a chorar, no qual se representa a exuberância da Serra da Mantiqueira. Já a lenda porto-alegrense, é representada na alegoria da estátua da Obirici, localizada sob o viaduto Obirici, no bairro Passo d’Areia. 

Samba Puro

A terceira escola da noite iniciou seu desfile às 22h em disputa pela Série Prata. Academia de Samba Puro trouxe como tema a erva-mate além da cuia; origem e mistérios da bebida símbolo dos gaúchos. Para desenvolver o enredo, os carnavalescos Fabiano Almeida e Regina Passaes se valeram de 18 alas, duas alegorias, um tripé e um conjunto cenográfico na comissão de frente.

O abre-alas representou o solo sagrado de Tupã com a plantação da erva-mate, os índios guaranis e as belezas da fauna e da flora. A segunda alegoria apresentou os caminhos da erva-mate, suas festas e tecnologia. O conjunto cenográfico da comissão de frente trouxe o tradicional O galpão crioulo e a oca indígena.

A representação do enredo foi dividida em três setores de desfiles para ressaltar a importância da exploração econômica da erva-mate, que foi determinante na emancipação política do Estado. Além das fronteiras nacionais, a erva-mate é encontrada no Paraguai e em algumas partes da Argentina.

O nome científico, Ilex paraguariensis, foi dado pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, quando conheceu a planta em 1820, no Paraguai. Posteriormente, ao saber que a erva crescia em maior quantidade e qualidade no estado do Paraná, o pesquisador se retratou, dizendo que deveria ter nomeado a planta de Ilex brasiliensis. 

União da Tinga

Representante da Restinga pela Série Prata do Carnaval de 2023, a União da Tinga entrou na avenida às 22h55. Com as cores verde, vermelho, amarelo e branco, ostentando o símbolo de um pavão, a escola apresentou o enredo Restinga: o Quilombo que deu certo para refletir sobre a própria comunidade.

A implantação do novo bairro no Extremo Sul da cidade parecia algo ilusório décadas atrás. O transporte público para os trabalhadores acontecia uma vez pela manhã e outra à noite, criando uma espécie de cidade dormitório. Aos poucos, uma nova  ordem foi sendo construída, resultado em um novo bairro e comunidade.

O enredo desenvolvido por  Luiz Henrique “Gugu” Lacerda e Pedro Linhares teve 11 alas, incluindo a comissão de frente e a bateria. As três alegorias fizeram a representação da cidade iniciando pela Ilhota, região de Porto Alegre que originou os primeiros moradores da formação do bairro, após a remoção do centro da cidade. A alegoria Expresso Restinga – a viagem” ilustrou a grande  distância do bairro para o Centro. A terceira alegoria, Restinga – O Quilombo da resistência mostrou a  Esplanada da Restinga, espaço que centraliza os eventos étnicos culturais do bairro.

Unidos da,Vila Mapa

Última escola da Séria Prata neste ano, Unidos da Vila Mapa iniciou o seu desfile às 23h55, no Porto Seco, sob uma chuva fina que permaneceu de forma intermitente durante toda a apresentação. Fundada em 27 de fevereiro de 1991, a escola tem as cores verde, azul e amarelo como características, e o seu símbolo é um escorpião.

A agremiação da Vila Mapa apresentou o tema Sara Forbes, uma princesa africana na corte inglesa. De autoria de Michael Smith, o enredo levou para a passarela a história da princesa da tribo resgatada pelo capitão do exército inglês Frederick E. Forbes, que havia recém-chegado à corte africana, e que acabou afilhada da rainha Victoria.

O desfile foi criado com 13 alas e duas alegorias. A primeira, no abre-alas, representou o Reino de Dahomey. A segunda alegoria lembrou o legado de Sara Forbes que permanece latente no trabalho das mulheres negras que batalham para construir uma sociedade livre das amarras impostas pelo racismo estrutural.


Texto: Cleber Saydelles

Edição: Lissandra Mendonça

Divulgação PMPA

Comentários

Postagens mais visitadas